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sábado, 14 de dezembro de 2013

Entenda o que a meditação significa para a filosofia budista

Meditar significa habituar-se a emoções 

e atitudes construtivas


A meditação às vezes é confundida com outras atividades. Meditar não é simplesmente relaxar o corpo e a mente, e tampouco imaginar ser estimado e bem-sucedido, ter bens materiais maravilhosos, fama e bons relacionamentos. Isso é apenas sonhar acordado com objetos de apego. Meditar não é se sentar na posição vajra, com as costas eretas e uma expressão de santidade no rosto. É uma atividade mental. Mesmo que o corpo esteja em uma posição perfeita, se a mente está cheia de objetos de apego ou raiva, não estamos meditando. Meditar também não é entrar em um estado de concentração, como quando pintamos, lemos ou realizamos qualquer atividade que nos interessa. E muito menos ter consciência do que estamos fazendo em um determinado momento.
A palavra tibetana para meditação é “gom”, cuja origem verbal é a mesma de “habituar” ou “familiarizar”. Meditar significa habituar-se a emoções e atitudes construtivas, realistas e benéficas. Isso cria bons hábitos mentais. A meditação é usada para tornarmos nossos pensamentos e pontos de vistas mais compassivos e correspondentes à realidade.
Algumas pessoas acham que podem inventar seu próprio modo de meditar e que não precisam de um professor para aprender. Isso é muita imprudência. Se desejamos meditar, primeiro devemos receber instruções de um professor qualificado. É benéfico ouvir os ensinamentos de uma fonte confiável como o Buda, porque foram examinados por estudiosos e praticados com bons resultados durante séculos.
Em primeiro lugar, ouvimos os ensinamentos e aprofundamos nossa compreensão refletindo sobre eles. Depois, por meio da meditação, nós os integramos a nossa mente. Por exemplo, ouvimos ensinamentos sobre como ter amor igual por todos os seres. Verificamos se isso é possível, e passamos a compreender cada passo na prática. Então criamos esse bom hábito mental integrando-o a nossa vida e treinando os vários passos que levam à experiência do amor igual. Isso é meditação.
Há dois tipos gerais de meditação: direcionada e analítica. A primeira visa a desenvolver a concentração e a última, a desenvolver a compreensão e o insight. Considerando essas duas categorias amplas, o Buda ensinou uma grande variedade de técnicas de meditação, e suas linhas existem até hoje. Um exemplo de meditação direcionada consiste em concentrar a mente na respiração e observar todas as sensações produzidas por ela. Isso acalma a mente e evita o seu tagarelar normal, permitindo-nos não nos preocupar tanto e ter mais tranquilidade na vida diária.
A visualização da imagem do Buda também pode ser usada como o objeto para o qual direcionar a mente e a concentração. Embora algumas tradições não budistas afirmem que olhar para uma flor ou uma vela desenvolve a concentração, em geral isso não é recomendado pelas tradições budistas porque a meditação é uma atividade da consciência mental, não sensorial.
Outras meditações nos ajudam a controlar a raiva, o apego e o ciúme desenvolvendo atitudes positivas e realistas em relação às pessoas. Esses são exemplos de meditação analítica ou “de verificação”. Outros exemplos consistem em refletir sobre a preciosidade da vida humana, a impermanência e o vazio da existência inerente. Aqui praticamos pensar de modo construtivo para obter compreensão correta e finalmente ir além do pensamento conceitual.
As meditações de purificação eliminam as impressões de ações negativas e sentimentos de culpa desagradáveis. A meditação sobre um koan – um poema zen em forma de problema sem solução que visa pôr fim a nossas ideias fixas – é feita em algumas tradições Zen. Esses são alguns dos muitos tipos de meditação ensinados no Budismo.
Hábitos mentais
Criar bons hábitos mentais na meditação muda pouco a pouco o comportamento na vida diária. Nossa raiva diminui, somos mais capazes de tomar decisões e nos tornamos menos insatisfeitos e inquietos. Esses resultados da meditação podem ser experimentados agora. Mas deveríamos sempre tentar ter uma motivação mais ampla e abrangente para meditar do que apenas nossa felicidade imediata.
Se meditarmos visando a nos preparar para vidas futuras, a obter liberação do ciclo de problemas recorrentes ou a alcançar o estado de plena iluminação em benefício de todos os seres, nossa mente se tornará naturalmente mais tranquila. Além disso, poderemos atingir esses objetivos elevados e nobres.
Meditar regularmente – mesmo que apenas por um curto período de tempo todos os dias – é muito benéfico. Algumas pessoas pensam: “Meu dia é ocupado demais com a carreira, a família e as obrigações sociais e não posso meditar. Meditarei quando estiver mais velho e minha vida for menos agitada. A meditação diária é para monges e monjas”. Isso está errado! Se nos é útil meditar, deveríamos arranjar tempo todos os dias para fazê-lo. Mesmo que não queiramos meditar, é importante termos algum “tempo de paz” para nós todos os dias.
Precisamos de tempo para nos sentar e refletir sobre o que fazemos e por quê, ler um livro de Darma ou recitar mantras. Para sermos felizes, precisamos aprender a gostar de estar com nós mesmos. Reservar um “tempo de paz”, preferivelmente de manhã, antes do início das atividades diárias, é necessário, especialmente nas sociedades modernas em que as pessoas são tão ocupadas.
Nós sempre arranjamos tempo para nutrir o corpo. Raramente nos abstemos das refeições porque sabemos que são importantes. Igualmente, deveríamos arranjar tempo para nutrir a mente e o coração, porque também são importantes para nosso bem-estar. Afinal de contas, é a mente e não o corpo que continua a existir em vidas futuras, levando com ela as impressões cármicas de nossos atos. A prática do Darma não é realizada em benefício do Buda, mas do nosso próprio. O Darma descreve como criar as causas da felicidade e, como todos nós desejamos ser felizes, deveríamos praticá-lo o máximo possível.
Técnicas
O Buda ensinou várias técnicas porque pessoas diferentes têm inclinações diferentes. Cada técnica pode abordar um objetivo parecido de um ponto de vista diferente. Por exemplo, quando fazemos meditação voltada para a respiração, nós nos concentramos na respiração. Neste caso, visualizar algo poderia distrair-nos do objeto da meditação.
Contudo, outra técnica de meditação usa a visualização da imagem do Buda com luz irradiando para nós e todos os seres que imaginamos sentados ao nosso redor. Essa meditação transforma a tendência natural da mente a imaginar coisas no caminho para a iluminação. Em vez de imaginar um feriado com a pessoa que amamos, o que apenas faz aumentar nosso apego, imaginamos a figura serena do Buda que inspira um estado mental de paz e equilíbrio.
Igualmente, recitar mantras transforma a tendência natural da mente a divagar no caminho para a Iluminação. Em vez de continuarmos nosso diálogo interno sobre o que gostamos e não gostamos, usamos essa voz interior para recitar mantras. Isso nos ajuda a desenvolver a concentração e pode ter um efeito purificador na mente.
*Os textos desta área são feitos com a colaboração da consultoria de budismo de Joia Rara.




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