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sábado, 14 de dezembro de 2013

Sufi: a flor do Oriente



Conhecido por muitos como o misticismo do Islão, o sufismo é uma filosofia de autoconhecimento e contato com o divino através de certas práticas as quais nem sempre seguem um padrão fixo e frequentemente parecem incompreensíveis a um observador que esteja fora do contexto de trabalho. Estas práticas devem ser aplicadas por um professor.
Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contato com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfêmia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a ideia convencional de Deus.
Hallaj (século X), um dos grandes representantes do sufismo, foi executado, pois ensinou, em estado de êxtase, que Deus e ele eram um; que havia atingido a identidade suprema. Como o ideal do sufismo era ascético, acreditavam que Jesus era tão importante quanto Maomé, que o Alcorão era tão essencial quanto a Bíblia ou a Torá. Quase um século e meio depois, Ghazali, um dos maiores pensadores do mundo e seguidor sufi, disseminava a ideia de que a verdade mística não pode ser aprendida, mas sim experimentada por meio do êxtase.

Para os sufis muçulmanos, a origem histórica da sua religiosidade pode ser encontrada nas práticas meditativas do profeta Maomé. Este tinha por hábito refugiar-se nas cavernas das montanhas de Meca onde se dedicava à meditação e ao jejum. Foi durante um desses retiros que Maomé recebeu a visita do anjo Gabriel, que lhe comunicou a primeira revelação de Deus.
Encontramos seguidores desta corrente em todos os segmentos sociais: camponeses, donas de casa, advogados, comerciantes, professores. Sua filosofia básica é: "Estar no mundo, mas não ser dele", livre da ambição, da cobiça, do orgulho intelectual, da cega obediência ao costume ou do respeitoso amor às pessoas de posição mais elevada.

Ordens sufis

Na prática o Sufismo abriga diferentes Irmandades ou Ordens, chamadas Tariqas. São inúmeras essas Tariqas, consta que são 97 ordens e muitas outras desconhecidas ─ e estão espalhadas em diferentes países do norte e do leste da África, como Somália, Etiópia, Mauritânia e, ainda, na Indonésia e Malásia, Afeganistão, Paquistão, Bangladesh, Índia, Curdistão, Rússia, Turcomenistão e nos Bálcãs.
São algumas destas ordens mais destacadas:
Ordem Chishti: [do mestre Haj Mu'in al-Din Chisti, afegão radicado na Índia].
Ordem Mevlevi: atua na Turquia e Bálcãs [região sudeste da Europa que inclui Albânia, Bósnia-Herzegóvina, Kosovo, Bulgária, Grécia, República da Macedônia, Montenegro, Sérvia]. Em seus exercícios de zhikr [meditação] utilizam intensamente a música e a dança. São os conhecidos Dervixes Rodopiantes.
Ordem Rifa’i [Rifaiyyah]: presente no Egito, na Síria, em Kosovo e Albânia, mas, também, em países do Ocidente: EUA, Austrália, Venezuela, Itália além de Marrocos, África do Sul, Algéria, Paquistão.
Ordem Naqshbandi: muito atuante nos EUA, Europa ocidental, Ásia Central, Índia, Sudoeste Asiático e Brasil.
Ordem Tijaniya: Muito atuante em Senegal, Argélia, Espanha e iniciando a divulgação no Brasil em parceria com a Associação Estrada da Harmonia. O primeiro passo da Iniciação do sufista é a submissão à disciplina imposta pelos mestres e professores.
Seja qual for a classe social ou poder econômico do candidato, começara provando sua humildade e fortalecendo sua capacidade para a disciplina, cuidando de tarefas domésticas, fazendo trabalhos do dia a dia e louvando a Deus a todo o tempo em seu íntimo.
Esse homem é um Sufi, um Dervixe exercitando sua humildade. O Sufi, assim como aconselham os mestres e professores, começa seu treinamento submetendo as vontade,desejos do corpo e das emoções à Vontade e poder da Mente Inteligente.
O Ser Divino (erroneamente chamado Ego Superior) que passa a ser o Líder Espiritual Interno do Ser Humano; a Consciência (erroneamente chamada de Ego ou Eu Superior) deve comandar inteiramente a persona, que é mera personalidade condicionada e que serve de referência para esta vida, um piscar de olhos na Eternidade.
As Práticas voluntária dos sufis, que fazem parte da disciplina pessoal do discípulo ou Adepto, incluem: Preces durante a noite, a lembrança de Deus (Zikr), o jejum, a busca do conhecimento e assim por diante
Ao mesmo tempo, é importante que esses atos sejam realizados com absoluta sinceridade um trabalho interior constante de meditação, de recitação dos nomes de Deus e de permanente vigilância sobre si mesmo e toda a realidade à sua volta. Este estado de vigília alerta é uma forma de devoção a Deus (consciente da presença de Divina).
Lutar para avançara no trabalho progressivo de purificação da alma e da consciência da realidade Divina.
Práticas Específicas ou Coletivas ─ Zikr: é a lembrança de Deus. Uma ação devocional que consiste em se manter desperto, consciente da Onipresença do Criador. As cerimônias Zikr têm uma liturgia que, conforme a regra da Ordem Sufista consiste em: meditação, recitação [de textos sagrados, audição de parábolas, aforismo de todos os tempos e culturas], canto, execução música instrumental, o incenso, o movimento rítmico, o êxtase…
ZIKR - Recordação 

O Zikr é uma técnica sufi que conduz o praticante a uma experiência de superação de si 
mesmo e de contato com o transcendente. Ele está fundamentado na repetição de 
algumas orações e de Atributos. A repetição de fórmulas específicas é uma técnica 
presente em várias tradições diferentes. Basicamente, todas elas apresentam os mesmos 
objetivos que são aquietar a mente e abrir as portas para uma nova dimensão de 
experiências. 
A palavra Zikr significa Recordação. No momento da prática, o indivíduo é convidado a 
recordar-se de alguns aspectos que permeiam toda a criação e que conferem uma razão 
de ser à própria realidade. Essas qualidades estão por trás da manifestação de cada uma 
das formas que existem. São elas que conferem a cada forma o seu propósito último e 
que justificam sua existência. 
Essas qualidades são chamadas de Atributos ou dos “Mais Belos Nomes de Deus”. 
Tradicionalmente, existem 99 Nomes, cuja origem é o próprio Corão. Porém, no 
Sufismo se diz que as qualidades e os Nomes de Deus são infinitos, e que cabe a cada 
um desenvolver a capacidade de descobri-los e experimenta-los. 
O Zikr oferece ao praticante uma oportunidade de expandir seu próprio estado de ser em 
direção a uma totalidade da qual ele participa. Cada Atributo remete a um núcleo de 
conhecimento muito específico e aponta para estados que devem ser vividos e 
experimentados, e paulatinamente incorporados à vida comum. 
Diz-se que ao nascer, é lançado sobre o ser humano um véu de esquecimento. Esse véu 
oculta a verdadeira origem de cada um, e oculta também, seu real estado de ser. Se o 
indivíduo não busca ativamente recordar-se de quem ele é, ele permanecerá para sempre 
incompleto, ansiando por algo que nem sempre será possível nomear. 

Eu me pareço com um falcão doente 
Preso a terra por causa de sua doença. 
Não pertenço a terra 
Nem sou capaz de voar para o céu. 
Ó pobre falcão 
Como você pode viver com estes corvos? 
Você foi hipócrita 
Fechando seus olhos para o amor 
Enquanto o fogo brilhava em seu coração. 
Como você pode esconder o amor quando as lágrimas 
Fluem de seu coração como cachoeiras? 
As escolas sufis conferem muito valor a esse anseio e saudade por algo indistinto. Elas 
dizem que se o ser humano se deixasse guiar por isso, ele poderia ser conduzido a 
encontrar aquilo que lhe falta. Por essa razão, geralmente, o Zikr é associado com um 
momento de intimidade, onde o praticante pode entregar-se a essa saudade na busca por 
recordar-se de sua real dimensão e origem. 
Cada elemento criado contém dentro de si a totalidade que lhe deu origem. Porém, na 
inconsciência causada pelo esquecimento, ele se torna incapaz de atingir essa totalidade. Assim, o Zikr oferece ao praticante uma oportunidade dele recordar-se dos elementos 
fundamentais que caracterizam sua existência e a justificam. 
Cada Atributo é uma chave que possibilita a entrada numa dimensão que transcende a 
vida comum. Cada um deles oferece a oportunidade de mergulhar dentro das qualidades 
fundamentais que geraram e que mantêm a própria existência e a existência da criação. 
No decorrer da prática, deve-se deixar de lado qualquer aspecto pessoal que possa 
interferir no processo de Recordação. O praticante deve aprender a ser conduzido pelo 
ritmo do grupo, de maneira a superar seus limites até que possa atingir uma experiência 
verdadeira do Atributo. Nesse momento, o Atributo deixa de ser um som ou uma 
palavra e passa a ser experimentado como algo concreto, uma qualidade particular que 
permeia a própria existência. 
Quanto maior a concentração da atenção na repetição, no movimento ou postura 
corporal, na respiração, e principalmente, no significado dos atributos, mais fácil fica 
atingir um silêncio interno e mergulhar no objetivo do Zikr. 

Este vale é diferente 
Para além de religiões e cultos. 
Aqui, quietamente, abaixe sua cabeça 
Mergulhe nas maravilhas de Deus 
Aqui, não há salas para religiões ou cultos. 
Geralmente, o Zikr é composto dos elementos abaixo, mas essa seqüência pode variar 
de acordo com as necessidades do momento. 

1) Abertura 
Ahudu billahimina Shaitan nihajin 
Buscamos proteção em Deus contra o mal 

2) Al-fatiha 
Bismi-Lhah ir-Rahman ir-Rahim 
Em nome de Deus o Beneficente e Misericordioso 
Al-handu li-Lhahi rabb il-alamin 
Que todas as glórias sejam para Deus, o Senhor dos mundos 
Ar-Rahman, ir-Rahim 
O beneficente e Misericordioso 
Maliki yawm id-Din. 
O Senhor do dia do julgamento. 
Iyyaka na budu wa yyaka nasta in. 
Só a Ti buscamos e só a Ti pedimos ajuda. 
Ihdinas-sirat al-mustaquim. 
Guia-nos no caminho correto 
Sirat alladhina an amta alayhim 
No caminho daqueles que vos amam e agradam. 
Ghayril-maghudubi alayhim wa lad-dalin. Amin. 
Protege-nos dos caminhos daqueles que se esqueceram e se confundiram. 

3) Al-Iklas 
Bismi Llha ir-Rahman ir Rahim 
Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso Qul Huwa Llahu Ahad 
Diga: Ele é o Uno 
Allahus-Samad 
Ele é o Eterno e Subsistente 
Lam yalid, wa lam yulad; 
Ele não gerou e nem foi gerado 
Wa lam yakun lahu kufuwan Ahad. 
E não há nada que se lhe compare 

4) Os Atributos 
Os Atributos são acompanhados de movimentos horizontais ou diagonais da cabeça. O 
movimento horizontal indica a negação a qualquer distração que possa desviar o 
praticante da recordação e invocação do Atributo. No movimento diagonal, a cabeça 
volta-se ao coração, sobe à direita e volta ao coração novamente. Ao dirigir-se ao 
coração, é como se a pessoa “batesse à porta” dele para abri-lo. O coração é um símbolo 
do local onde se encontram as qualidades e atributos pessoais, e esse gesto de cabeça 
serviria para desperta-los. Este movimento simboliza também o preenchimento do 
coração pelo próprio atributo invocado. 
Existem muitas referências na tradição islâmica sobre o coração, tais como: “Deus 
disse: A criação inteira não é capaz de me conter, mas Eu estou contido no coração de 
todo aquele que Me ama”. E também, “Há um polimento para tudo, e o polimento para 
o coração é a Recordação (ou Zikr)”. 
Os atributos abaixo são os mais comuns. Mas, no momento do Zikr, eles podem variar e 
serem apresentados em outras seqüências. A partícula Ya que precede cada um dos 
Atributos é indicativa da conexão com o significado mais profundo do atributo. Nestas 
invocações o movimento da cabeça pode vertical ou diagonal. 
Seqüência inicial de atributos: 
- Allahuma, ya-Dafi, ya-Mani, Allah - O que Previne do mal e ajuda. 
- Ya-Hafiz, ya-Nazir, ya-Muin, Allah - O que protege, toma conta e favorece. 
Outros atributos: 
- Ya Allah - Allah é o mais belo nome de Deus, e contém nele, todos os atributos. 
- Ya Hayy - O Vivente, a Vida. 
- Ya Hu – Ele, a Presença. 
- Ya Haqq - A Verdade, o Real. 
- Ya Ahad - O Um, o Uno, o Único. 
- Ya Rabi - O Mestre, o Guia. 
- Ya Latif - O Sutil. 
- Ya Nur - A Luz. 

5) A Shahada 
La Illaha Illa Llah – Não há deus a não ser Deus. 
Essa fórmula é chamada de ‘Shahada’ e é uma afirmação da unidade divina. 
Ela é formada por duas partes. A primeira parte - Não há deus - busca conscientizar o 
praticante de que nada deve ser considerado como sendo ‘Deus’, ou seja, que deve ser 
superada a ilusão de que a realidade é algo que não Ele. A segunda - a não ser Deus – 
afirma que existe uma única dimensão, que a tudo abarca e unifica, que deve ser 
apreciada e considerada como a expressão do divino. Ou seja, basicamente, essa fórmula considera que tudo o que existe participa de uma só Unidade e que nada existe 
fora disso. 
Ao longo dessa repetição, a cabeça pode se deslocar na diagonal ou então, fazer o 
movimento de uma cruz, onde ao repetir La Illaha (não há deus), move-se a cabeça 
horizontalmente, negando tudo. No momento da afirmação illa Llah, a cabeça se move 
na vertical, preenchendo todo o ser com a afirmação da Unidade.

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