
A palavra “advento” tem origem latina e significa “chegada”, “aproximação”, “vinda”. No Ano Litúrgico, o Advento é um tempo de preparação para a segunda maior festa cristã: o Natal do Senhor. Neste tempo, celebramos duas verdades de nossa fé: a primeira vinda (o nascimento de Jesus em Belém) e a segunda vinda de Jesus (a Parusia). Assim, a Igreja comemora a vinda do Filho de Deus entre os homens (aspecto histórico) e vive a alegre expectativa da segunda vinda d’Ele, em poder e glória, em dia e hora desconhecidos (aspecto escatológico).

Homilia do 1º. Domingo do Advento – Ano A

A oração da coleta nos convida para que “corramos ao encontro do Senhor que vem”. Onde está este Deus vindouro? Ele está no nosso cotidiano. Antes de procurarmos a Deus nos acontecimentos extraordinários, devemos percebê-lo nos fatos mais corriqueiros da nossa vida. Em cada novo desafio, nas oportunidades novas, nas dores, nas alegrias, em cada nova pessoa que surge diante de nós está o Deus que vem. O advento é todo dia, é cada momento. Advento é deixar Deus existir no nosso dia a dia, é abrir-se para que Ele esteja presente.
O Evangelho nos convida à vigilância. Isto porque o Senhor virá – eis a mística dos dois primeiros domingos do advento: preparar-se para a vinda do Senhor na glória, preparar-se para a vinda do seu Reino glorioso. Vigilância significa ter presente a importância da vida, ou seja, não podemos conduzir a vida no improviso, pois o que realizamos aqui e agora tem consequências eternas. Não sabemos quando o Senhor virá, não sabemos quando nossa vida terrena terá o seu fim, por isso, devemos aproveitar cada minuto. O tempo é bem aproveitado dependendo de nossas opções, de nossas escolhas diante do mistério da vida. Nossas escolhas nos distinguem, por isso, “um será levado e outro será deixado”.
O Evangelho nos fala de duas situações que compõe o cenário da vinda do Senhor. Primeiramente, muitos estarão como “nos dias de Noé”, ou seja, entregues aos prazeres da vida. Depois, estarão ocupados com o trabalho do campo e com a moagem do trigo, ou seja, atarefados com os afazeres da vida. Aqui contém um alerta interessante: não podemos fazer da nossa vida um misto de busca de prazeres e de afazeres a serem cumpridos. Não seria esta dualidade medíocre a tônica da vida de muitos concidadãos da pós-modernidade? Por detrás dos prazeres e do trabalho deve estar o sentido da existência. Uma vida preenchida de sentido consegue transpor o vício do egoísmo e a escravidão do dever. É preciso acordar do torpor da imobilidade: “já é hora de despertar”.
A primeira leitura não revela algo vindo de cima, não nos conduz ao sonho da espera do Céu. Sonhar na esperança do novo é se comprometer com a construção deste novo. O sonho nos impele à mudança. Aqui é bem vinda a poesia de Lothar Zenetti: “Pergunte a cem católicos: o que é mais importante na Igreja? E eles responderão: a missa. Pergunte a cem católicos: o que é mais importante na missa? E eles responderão a mutação do pão e do vinho no corpo e sangue do Senhor! Diga então aos cem católicos que o mais importante da Igreja é a mutação. Eles se enfurecerão: Não, tudo deve ficar como está!”. E parece que muitos desejam a imobilidade com a desculpa de estar sendo fiéis à Tradição. Que o diga o Papa Francisco...
“Já é hora de despertar (...)A Noite já vai adiantada, o dia vem chegando...” Mais uma vez já é chegada a hora de um novo ardor pela vida. “Vinde todos, deixemo-nos guiar pela do Senhor!”
Como se estrutura o Tempo do Advento
O tempo do Advento não tem um número fixo de dias e depende sempre da solenidade do Natal. Ele começa na tarde (1ª Vésperas) do primeiro domingo após a Solenidade de Cristo Rei e se desenvolve até o momento anterior à tarde (1ª Vésperas) do Natal. Ele possui quatro semanas e, por isso, quatro domingos celebrativos. O terceiro domingo do Advento é chamado de domingo da alegria (gaudete, em latim) por causa da antífona de entrada da missa (Alegrai-vos sempre no Senhor), mostrando a alegria da proximidade da celebração do Natal. O tempo do Advento se divide em duas partes. A primeira, que vai até o dia 16 de dezembro, é marcada pela espera alegre da segunda vinda de Jesus. A segunda, os dias que antecedem o Natal, se destaca pela recordação sobre o nascimento de Jesus em Belém.
As figuras Bíblicas principais do Advento
Dois personagens bíblicos ganham destaque na celebração do Advento: Maria e João Batista. Ela porque foi escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador, e ele porque foi vocacionado a ser o precursor do Messias. Ela se torna modelo do coração que sabe acolher a Palavra e gerar Jesus. Ele se torna modelo de uma vida que sabe esperar nas promessas de Deus e agir anunciando e preparando a chegada da salvação. Em ambos se manifesta a realização da esperança messiânica judaica e o anúncio da plenitude dos tempos.
“Atentos e vigilantes”
A espiritualidade do Advento é marcada por algumas atitudes básicas: a preparação para receber o Cristo; a oração e a vivência da esperança cristã. A preparação para receber o Senhor se dá na vivência da conversão e da ascese. Precisamos ter um olhar atento sobre nós e a realidade que nos cerca e nos empenharmos para correspondermos com a ação do Espírito de Deus que quer restaurar todas as coisas. O nosso relacionamento com o nosso corpo e os nossos afetos, com nossos familiares e pessoas íntimas, nossa participação na vida eclesial e social devem estar no foco de nossa atenção. A preparação para celebrar o Natal demanda uma confissão sacramental bem feita e um propósito firme de renovação interior.
“Orai a todo momento”
Este tempo é marcado por uma vivência mais profunda da vida de oração. A leitura orante deste período nos coloca em contato com as profecias de salvação do Antigo Testamento, com a expectativa que os cristãos da Igreja primitiva tinham da Parusia e com os eventos principais que antecederam o nascimento de Jesus. A recordação dos eventos que antecederam a primeira vinda de Cristo se torna a base da preparação da Igreja para o novo Advento do Senhor. A Santa Missa e a Liturgia das Horas são os principais momentos celebrativos. Os exercícios de piedade, como a oração e a meditação dos mistérios gozosos do Rosário, a oração do Angelus Domini e a Novena de Natal podem ser um caminho feliz para a vivência da oração comunitária neste tempo.
“Para ficardes em pé diante do Filho do Homem”
Cada um de nós, apesar do pecado e do mal que nos cerca, deve desejar sempre mais a felicidade, aceitando que, em última análise, ela é o Reino dos Céus, a vivência em comunhão plena e eterna com Deus. Para isto é necessário vivermos dirigindo nossa vida para esta meta, colocando nossas forças no socorro da graça do Espírito Santo. Deus já nos criou desejando a felicidade. Contudo, por causa do pecado, vamos procurando nas criaturas aquela completude que só pode ser vivida na comunhão com o Criador. O Advento nos propõe entendermos todas as coisas na sua relação com Deus e usarmos elas como meios de estarmos com Ele, colocando nossa esperança nas realidades que não passam.
Para aprofundar...
Para saber mais sobre o assunto, indicamos CIC, nos 1168 até 1171; no Compêndio do Catecismo, perguntas de 241 e 242; no Youcat, perguntas de 184 até 186; e, Sacrosanctum Concilium, parágrafos 102 e 105.
Pe. Vitor Gino Finelon
Vice-Diretor das Escolas de Fé
e Catequese
Mater Ecclesiae e Luz e Vida
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